Crônica: Conto de fadas moderno

A família de Franciele era desestruturada. Enquanto seu pai bebia descontroladamente, a madrasta fazia questão de destratá-la.
Por isso, desde cedo, Fran vivia mais na rua que em casa e, como já era de se esperar, começou a frequentar rodas de amizades duvidosas. Ajudava com os afazeres domésticos e ficava até tarde em bailes funk do bairro, entre popozudas, sexo explícito e drogas baratas.
Aos treze, perdeu a virgindade, sem romantismo ou preliminares.
Ao quinze, abortou.
Foi cedo também que percebeu que aquela vida não lhe reservaria um futuro decente. Assim, quando completou dezoito, encontrou emprego como secretária de um jovem e promissor advogado da cidade.
Enquanto ele subia na carreira, Fran fazia crescer seus atributos cirurgicamente adquiridos.
Na festa de final de ano da firma, de Louboutin comprado com empréstimo bancário, levou o chefe para a cama. Teve preliminares. E ela se apaixonou.
Na manhã seguinte, ele saiu correndo, esbaforido, de volta para a esposa com alguma desculpa esfarrapada. Levou na mochila, sem querer, um par do Louboutin.
Fran implorou por seu amor via SMS.
Ele não respondeu. Em nenhuma das oitenta e sete vezes.
Indignada, Fran o processou por assédio sexual tenho como prova o sapato esquecido. Até hoje, organizada, vive bem aplicando a pequena fortuna que recebeu após o veredicto.
Difícil para ela é entender o preconceito das pessoas. E daí se ela não ganhou castelo na Disney? Ela definitivamente não foi a primeira mulher a encontrar um príncipe abastado.

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